O QUE SE SABE E O QUE FALTA SABER SOBRE CASEIRO ATACADO E MORTO POR ONÇA-PINTADA NO PANTANAL DE MS

Jorge Avalo, de 60 anos, morreu após ser atacado por uma onça-pintada às margens do rio Miranda, no Pantanal de Aquidauana (MS), no dia 21 de abril (segunda-feira). A Polícia Militar Ambiental (PMA) confirmou a morte ao encontrar pegadas do felino junto a pedaços do corpo do homem, que trabalhava como caseiro em um pesqueiro.

Na terça-feira (22), outras partes do cadáver foram encontradas em uma toca do felino, em uma área de mata fechada, a cerca de 300 metros de onde a vítima foi atacada. Helicópteros e drones foram utilizados durante a operação pelo local do ataque, que é de difícil acesso. Além dos policiais, familiares da vítima ajudaram nas buscas pelo corpo.

Veja o que se sabe

Quem era Jorge Avalo?

É comum o ataque de onças?

O que vai identificar se a onça comeu ou não o caseiro?

O que levou a onça a atacar?

O que acontece com a onça após a captura?

1 – Quem era Jorge Avalo?

Jorge trabalhava havia 16 anos como caseiro no local e já estava acostumado com a presença de onças na região. Familiares contaram ao g1 que o homem era uma pessoa alegre, sorridente e bastante sistemático.

Ainda conforme os familiares, Jorge já havia saído do pesqueiro uma vez, mas que o patrão ligou pedindo para que voltasse pois ninguém conseguia permanecer na região.

O corpo de Jorge foi sepultado na quarta-feira (23) após passar por uma série de exames periciais no Núcleo Regional de Medicina Legal de Aquidauana. No corpo da vítima foram encontrados sinais que indicam mordidas e unhas de animal.

2 – É comum o ataque de onças?

Especialistas em conservação ouvidos pelo g1 afirmam que o ataque do felino a seres humanos é raríssimo.

O biólogo da ONG SOS Pantanal, Gustavo Figueroa, esclarece que as onças tendem a fugir dos seres humanos. O especialista, que trabalha há mais de 10 anos no bioma, usou as redes sociais para reforçar a importância de não transformar o episódio em motivo de caça ou retaliação contra a espécie.

3 – O que vai identificar se a onça comeu ou não o caseiro?

Após ser capturada na madrugada de quinta-feira (24), a onça-pintada macho, de 94 quilos, que rondava o pesqueiro, onde Jorge foi atacado e morto, foi encaminhada para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) de Campo Grande.

O biólogo e coordenador da ONG Panthera, especialista em conservação de felinos no Brasil, Fernando Tortato, explicou que é necessário confirmar, por meio do laudo pericial do corpo de Jorge e também da onça, se a causa da morte foi realmente o ataque.

Ao g1, ele explicou que é possível analisar a alimentação do animal nos últimos dias, por meio das fezes. Assim, será possível descobrir se o animal capturado foi o mesmo que atacou Jorge. “Pode ser feita uma análise de DNA para verificar se há carne humana no conteúdo estomacal”, informou.

4 – O que levou a onça a atacar?

A prática de ceva é apontada como “comum” na região em que o caseiro foi encontrado morto após ser atacado por uma onça, no Pantanal de Aquidauana (MS). Especialistas afirmam que a ação coloca em risco todo o ecossistema.

Fernando Tortato alerta que a prática da ceva pode aumentar o risco de ataques, ao fazer com que animais silvestres percam o medo natural do ser humano e passem a associá-lo à oferta de alimento — comportamento que pode ter causado o ataque ao pantaneiro.

“Ao condicionar o animal à presença humana, ele perde esse medo natural que uma onça tem do ser humano, e isso não deve ser encarado como normal. E o pior dessa questão da ceva é que ela passa a associar o ser humano com alimento. Então, além de você condicionar o animal a ficar transitando ambientes do homem de maneira tranquila, ele também condiciona com a alimentação”.

5 – O que acontece com a onça após a captura?

A partir do momento em que a captura é feita, um risco de ataque futuro é eliminado, segundo o especialista. De acordo com Fernando, animais que já atacaram um ser humano podem representar uma possibilidade de novo ataque no futuro. “Então, a captura é uma das opções a serem debatidas para remover esse animal e reduzir o risco de novos acidentes, além de preservar a vida da onça”.

Fernando afirma que a captura foi uma ação imediata. “Esse momento pós-captura gera oportunidades de obter respostas sobre esse caso. É uma situação muito complexa, com várias questões a serem respondidas. E depois, com esse animal em cativeiro, ele pode ter um destino, como, por exemplo, um criadouro conservacionista. É um debate que deve ser feito com todo corpo técnico envolvido, e é uma decisão que não será tomada de imediato”.

Em nota, o ICMBio informou que o animal permanecerá provisoriamente no local, enquanto são realizadas avaliações clínicas e comportamentais.

O animal capturado é um macho com cerca de nove anos de idade. Após a realização dos exames, o felino deverá ser encaminhado a uma instituição autorizada a manter fauna silvestre e será integrado ao Programa de Manejo Populacional da Onça-Pintada, sob coordenação do ICMBio.

O que falta saber

O que levou a onça-pintada a atacar o caseiro?

O local praticava Ceva?

Existem outras na região?

Os responsáveis pelo pesqueiro sabiam da presença de onças?

G1

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